Resident Evil 2 Remake, PS4 — Review

Quando se reimagina um clássico, há sempre o risco de perder a alma da obra original. Com o Resident Evil 2 Remake para PS4 esse risco se desfaz em minutos: o jogo respira o clima tenso dos primeiros registros, mas com uma execução moderna que troca vídeos em sudutura por planos fixos, olhares pela fresta da porta e aquele medo quase físico de virar a esquina. Uma mistura sagaz de classicismo e evolução, entregue com brutal competence.

Ficha técnica rápida

  • Plataforma testada: PlayStation 4
  • Modo de jogo: 1 jogador
  • Legendas/idioma: suporte completo a legendas (inglês/português, entre outros)
  • Género: ação/survival horror
  • Desenvolvedora: Capcom

Trama e ambientação

A história volta a Raccoon City no auge do surto daivirus T. Empolgador para veteranos, acessível para novatos, o enredo apresenta Leon S. Kennedy e Claire Redfield em paralelo, correndo contra o tempo, contra zumbis — e contra uma engenharia de terror que usa som, luz e espaço como protagonistas. Os memorandos, mapas e fotos encontradas pelo caminho compõem um quebra-cabeça ficcional que recompensa a exploração cuidadosa.

Gameplay e design

O jogo reinterpreta o clássico em uma terceira pessoa moderna com câmera sobre o ombro. O conforto de mira melhorado convive com munição escassa e decisões tensas: correr, desviar ou enfrentar? Cada bala pesa, e essa arquitetura de risco cria uma dramaturgia única que o correr e atirar sozinho não entregam.

  • Inventário e gerenciamento: não é frescura, é design. Mochilas e baús funcionam como “respiro estratégico”, forcing você a pensar rotas e revisitar ambientes com outra intenção.
  • Quebra‑cabeças: orgânicos e integrados ao espaço — chaves, símbolos, order de alavancas — oferecem um balanço justo entre descobertas e frustração.
  • Mr. X e a pressão constante: o icónico “big guy” aprende a andar pela delegacia, e essa presença altera o ritmo do jogo. Ela transforma o que seria um “tiroteio estável” em uma sinfonia de sustos e decisões impensadas, reiniciando o coração a cada porta.
  • Scenarios A e B: a alternância de Leon/Claire e suas variações constrói redundâncias inteligentes. Não é simplesmente “repetir”, é ver o mesmo espaço sob outra tensão — uma linha narrativa que fala de percepção e timing.

Visual, direção de arte e performance

Emocionalmente, o remake funciona porque Capcom persevegou em sombreados profundos, close-ups estratégicos e ambientes que “conversam” com o jogador. Texturas, iluminação e composição de quadros reforçam a ideia de que estamos assistindo a um filme tense… até o momento em que paramos e perguntamos: “quem está na porta?”

No PS4, a experiência entrega qualidade sólida para o ciclo da consola: tempos de carregamento rápidos e estrutura de save que incentiva experimentação. A leitura do espaço — corredores que descriptografam o medo em passos — é um dos grandes acertos. É suficiente e estável para uma partida dedicada, sem comprometer a imersão.

Áudio

O sound design sustenta o terror: passos, portas, respirações e o “thud” distante de Mr. X. Quando oDBaseaaumenta a música, o ambiente reforça a paranoia e, paradoxalmente, a sua coragem momentânea. O mix de ruído diegético e trilha evita o escancarado, preferindo o impercetível — uma técnica que faz o jogador listening para pistas e, claro, para perigos.

Conteúdo e duração

Uma campanha para cada protagonista, com variação de cenários e boss fights. Para quem quer “fazer tudo”, há bônus (desbloqueáveis) e modos secundários que ampliam a rejogabilidade. Dificuldades bem calibradas — de “aperte e chore” a “sobreviva sem ajuda” — permitem customizar o nível de stress sem diluir a tensão core.

Prós

  • Renovação inteligente que respeita a obra original sem servir de sombra.
  • Jogo de espaço e tempo: cada corredor carrega um risco, cada decisão pesa.
  • Design de pressão constante, amplificado por Mr. X.
  • Áudio e mise‑en‑scène que elevam o medo a uma competência técnica.
  • Rejogabilidade real através de cenários e desafios.

Contras

  • Alguns segmentos podem punir em excesso quem quer jogar “no escuro”.
  • Elementos de redundância podem soar repetitivos em certas rotas para alguns jogadores.

Conclusão

Resident Evil 2 Remake é mais do que nostalgia requentada: é uma releitura que moderniza sem estourar o DNA do terror. Para quem se interessa por survival horror, é praticamente um ponto de honra — e, para quem quer sentir aquela sensação rara de “não aguento mais, mas não paro de jogar”, é um clássico instantâneo.

Se você curte medo orgánico, decisões complicadas e uma estética que sabe quando mostrar e quando esconder, não hesite. É inteligente, tenso, e tamanho certo para uma maratona bem guardada no PS4. A cidade espera — e olha para você também.